Eu parei de fazer dieta em 2015 ou poderia dizer que estou parando desde 2015, já que a mentalidade da dieta é um conjunto de pensamentos/crenças/comportamentos enraizados em mim e na sociedade. Iniciei pela sugestão do Mindful Eating “Coma quando está com fome e não coma quando não está com fome”. A partir daí houve uma aproximação inicial das sensações do corpo e um esforço razoável para tomar decisões alimentares baseadas nessas sensações, ao invés do que a mente dizia que era certo sobre os horários, os alimentos e as quantidades.
Surpreendo-me ao perceber que essa primeira sugestão aconteceu há 7 anos e considero que a cada dia estou mais mergulhada no meu relacionamento com a comida. Parte da explicação de perder a noção do tempo é que a prática de Mindful Eating traz uma liberdade e uma diminuição considerável no sofrimento já que paramos de contar datas, calorias e quilos.
O encantamento com a relação com a comida é algo constante quando se cultiva o comer consciente, e o tédio é apenas um sinal de que o piloto automático está ligado. Neste momento tenho investigado a relação com a carne e os derivados do leite. Quando comecei a sentir muitas dores no inicio de 2020, recorri a um médico e a exames que revelaram a intolerância à lactose, a cada consulta o médico dizia para “cortar” todos os produtos derivados de leite por 15 dias, e ao chegar em casa eu comia vários chocolates e passava mal a tarde toda. Senti na pele mais uma vez como a restrição ainda é a forma mais conhecida de tratamento. Talvez um dos desafios para iniciar o caminho de paz com a comida seja achar que o comer consciente só tem aplicabilidade na ausência de intolerância à lactose, diabetes, hipertensão, doença renal crônica ou alergia ao glúten.
Felizmente eu já conheço o caminho fora da restrição alimentar e foi a atenção amorosa que me permitiu cuidar da minha intolerância à lactose.
(Compartilhei essa história para que você note como até mesmo alguém que cultiva Mindful Eating há anos pode ser sugada pela mentalidade de dieta em caso de dor, mas a boa noticia que sabemos reconhecer e desenvolver ainda mais confiança no corpo).
A verdade é que quando sentei para escrever esse texto eu queria falar sobre os véus da dieta. Talvez eu tenha me distraído com algo importante. Ontem foi um dia desafiador, acordei depois de uma noite de insônia e passei as horas seguintes envolvida em algo estranho. Estava irritada, parecia que nada fazia sentido, em alguns momentos eu forçava a minha mente trabalhar, meditar foi penoso, assistir série foi penoso, fazer comida foi penoso, conversar era penoso, acreditar que era apenas sono e que iria melhorar foi penoso. Não é incrível como UMA noite sem dormir pode impactar tanto na nossa realidade? Hoje acordei depois de dormir 11 horas e senti energia, um pensamento claro, disposição para a prática de meditação, para passear com as cachorras e fazer meu leite vegetal.
Viver um dia penoso me fez relembrar os anos em que eu fazia dieta, era exatamente isso: um dia penoso atrás do outro. E a dificuldade transbordava para tudo: trabalho, relações, lazer e etc. O curioso da época é que eu não reconhecia isso porque estava envolvida pelos véus da dieta.
Esse texto é um convite para que você saiba que é possível clarear a sua relação com a comida, encontrar paz e se reencantar com os alimentos.
O primeiro passo é reconhecer que sofrer com a comida não é a única opção.
Por Driele Quinhoneiro que deseja que você possa experenciar a leveza de uma vida sem dietas
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