Recentemente Lynn Ross (Presidente do Centro Internacional de Mindful Eating) escreveu no seu blog um texto que me chamou a atenção e resolvi trazê-lo aqui…
Ela inicia contando um episódio que aconteceu um tempo atrás enquanto dava carona a uma amiga, e foi questionada sobre seu peso e para a surpresa da conversa Lynn não sabia o quanto pesava, e também não subia numa balança a tempos e afirma que estava bem feliz dessa forma.
“[..] aprendi há muitos anos que a balança nunca me faria feliz. O condicionamento em nossa sociedade é de que nunca “somos o suficiente” e essa distorção cognitiva sempre aparecia quando eu subia na balança. Realmente não importava qual número era. Mesmo se eu tivesse perdido peso, minha mente não se contentava e me dizia que eu precisava pesar menos. Quando eu fiquei consciente da tortura voluntária em que eu me colocava, eu disse ‘chega!’ E eu me libertei do círculo do peso. *
Perder peso, apesar do que você imagina, não é algo que trará saúde e bem-estar. Na verdade, como Sandra Aamodt escreveu em seu livro “Why diets Make Us Fat”: nenhuma pesquisa mostrou que perder peso através da mudança de estilo de vida melhora a saúde a longo prazo. Como ela aponta, ninguém sabe como conseguir manter a perda de peso a longo prazo [..] Seguir uma dieta restritiva em calorias ou alimentos a fim de emagrecer, é uma forte previsão de ganho de peso e não de perda!
Além disso, não é uma mudança de peso que produzirá mais saúde, mas mudanças no estilo de vida: comer mais frutas, verduras e legumes, comer menos alimentos ultraprocessados e realizar exercícios físicos.** E ainda, mudar o foco das regras externas, como “quantas calorias ou nutrientes” para os sinais internos de fome e saciedade, prestando atenção em qual o sabor da comida e como o corpo se sente depois de comer… essas atitudes resultam em preferência por alimentos mais saudáveis, menos transtornos alimentares, maior aceitação corporal, menos pressão para ser magro e maior autoestima.
Sinais internos tornam-se mais acessíveis através da prática de mindfulness e do mindful eating (comer com atenção plena). Essas práticas nos guiam a prestar mais atenção aos sinais do corpo sobre quando se alimentar, o que, por que, quanto comer e quando movimentar o corpo e assim, existe mais possibilidade de criar um relacionamento mais saudável com o corpo do que um plano alimentar.
Deixar de se alimentar de forma restritiva (o que eventualmente leva a comer demais), aprender a comer de forma agradável, saber comer quando está com fome e parar quando estiver satisfeito são práticas importantes.
Parece simples, mas eu sei que não é tão fácil para a muitas pessoas. Comer com atenção plena permite saborear o alimento desejado sem culpa sendo importante a plena satisfação depois de comer. No processo do mindful eating é possível aprender que se pode ter sempre o que você deseja e assim não precisa ter mais que o necessário quando você senta para comer.
O cultivo de Mindfulness nos ensina a estar presente, no momento, com aceitação do “o que é”. O treinamento da atenção plena tem mostrado a diminuição do comer compulsivo e da frequência de pensamentos sobre comida. Aceitação do corpo, como nós somos, sem lutar por algum objetivo no futuro nos ajuda a prestar mais atenção às mensagens que recebemos ao comer – tanto do prazer quanto do que é ruim. [..]
A cura para querer perder peso é aprender como ser presente e feliz consigo mesmo [..] Quando você não gosta do seu corpo e se ocupa com restrições e torturas, é muito difícil se concentrar em como cuidar dele. Já quando você aprende como aceitar seu corpo pelo grande milagre que é, por existir é quando você começa a tratá-lo melhor. Eu ouço várias versões dessa verdade das pessoas ao final das 10 sessões do curso de mindful eating.
Uma mãe me disse ‘Eu amo esse meu corpo. Ele deu a luz a dois filhos lindos, sobreviveu a dois episódios de doenças, recuperou-se de uma cirurgia e me permite viver com a minha família e meus amigos todos os dias. Não é uma imagem ideal e perfeita que a sociedade prega, mas é a MINHA imagem e eu a amo!’.
Aliás, a amiga que me perguntou sobre meu peso estava engajada no clichê “quero perder 10 quilos antes do X evento” [..] Agora ela está focada em outros projetos e não tem tempo para focar em perda de peso, ou seja, está centrada em sentir-se forte e encontrar significado. Isso, meus amigos, parece a chave para a felicidade. “
*Lynn diz que se pesa no consultório médico a fim de manter o prontuário mas pede para não falarem o número da balança. Corpo dela, escolha dela. Depois de ser traumatizada no consultório quando ganhou muito peso depois de parar de fumar, decidiu que era da sua responsabilidade como lidaria com um número da balança.
**Nota: A saúde não é redutível ao autocuidado. “A saúde é entendida como uma função de nossas circunstâncias e histórias: a soma dinâmica da opressão, privilégio, trauma, sorte, acesso a água limpa, espaços verdes, comunidade e assim por diante.”
Fonte: HAPPY AND HEALTHY DOESN’T HAVE A WEIGHT
by Lynn Rossy – https://www.lynnrossy.com/happy-and-healthy-doesnt-have-a-weight/?fbclid=IwAR2yV4-8JkdKsRRzSgNBU4Q3FeI_CmD42ckHs_VIwcHNpCn9Y5TxWxwx5tI
Tradução e adaptação: Maria Beatrix Stern (estudante de Nutrição e Metabolismo USP – Ribeirão Preto)
Revisão: Driele Quinhoneiro (Instrutora de Mindful Eating e Diretora do Centro Brasileiro de Mindful Eating)
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